terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Letter to a Young Poet (Cartas a jovens poetas)

Idioma: Português
Ano de Publicação da Edição Corrente: 2003
Titulo Original: Briefe an einen jungen Dichter; A Letter to a Young Poet
Idioma Original: Alemão
Tradutor: Lino Marques e Ana Mateus
Opinião:
Publicação conjunta de textos de dois escritores da mesma época (séculos XIX/XX), mas que, pelo que se sabe, nunca se conheceram, tinham temperamentos diferentes e divergiam nas suas visões sobre a poesia.
Rainer Maria Rilke, sobretudo um poeta, escreve a Franz Kappus, jovem estudante de uma academia militar com dúvidas sobre a sua vocação para a poesia. Virginia Woolf, romancista, escreve a John, personagem fictícia, que serve à autora para tecer uma série de comentários e reflexões sobre a poesia em geral e a inglesa sua contemporânea, em particular.
Em comum, apenas um aspecto: os dois poetas aconselham os seus interlocutores a questionarem as suas reais necessidades de escrever, a não terem pressa na produção e publicação de poesia, arte que deve ser amadurecida.

Rilke começa por aconselhar a renúncia de temas e olhares sobre o exterior. Para ele, a poesia deve surgir como uma expressão do interior, onde tudo pode e deve ser posto ao serviço da criação poética: as recordações de infância, as emoções das vivências presentes, o sofrimento, o amor, a tristeza, a dúvida, o futuro, o destino, a essência de si mesmo. E, para isso, seria fundamental atingir um estado de solidão como condição do ser-se poeta; a autenticidade da poesia surgiria dum olhar profundo para dentro, de um trabalho de auto-conhecimento com vista a uma fidelidade de si mesmo, que só poderia ser alcançado em solidão. Mas, escrevendo a Kappus, Rilke também reflecte sobre si numa altura de crise pessoal e acaba por usar as cartas para tecer uma série de considerações sobre modos de estar na vida, no amor, na solidão.

Em oposição a Rilke, Virginia Woolf defende que a genuidade só pode alcançar-se no contato com os outros, pelo que o olhar sobre si próprio seria apenas um degrau na caminhada do poeta. Aconselha vivamente um olhar para o exterior sob o perigo de a escrita demasiado íntima se tornar desinteressante por ser só sobre e para uma pessoa; acredita ser fundamental tornar a poesia vida, pela atenção aos lugares, aos homens, ao que circunda o poeta (ao contrário da poesia inglesa vitoriana, que critica exemplarmente).
Extracto:
R. M. Rilke: «Nessa vida o tempo não é uma medida, um ano nada é, e dez anos não são nada; ser artista significa: não fazer cálculos nem contas, amadurecer como uma árvore que não força a sua própria seiva e resiste, confiante, nas tempestades da Primavera, sem recear que o Verão possa não vir depois. Ele vem. Mas apenas para os que são pacientes, que estão lá como se tivessem a eternidade diante deles, despreocupadamente tranquila e distante.»

Virgina Woolf: «O que precisa agora é de ficar à janela e deixar que o seu sentido rítmico pulse, pulse, audaciosa e livremente, até que uma coisa se funda com outra, até que os táxis dancem com os narcisos, até que um todo se forme a partir destes fragmentos separados. Estou a dizer disparates, eu sei. O que quero dizer é, reúna toda a sua coragem, apure a sua atenção, invoque todas as dádivas que a natureza lhe quis conceder. Depois, deixe que o seu sentido rítmico circule livremente entre homens e mulheres, autocarros, espargos (tudo o que andar na rua) até conseguir reuni-los num todo harmonioso. Essa é, talvez, a sua tarefa – encontrar a relação entre as coisas que parecem incompatíveis, mas que, no entanto, têm uma afinidade misteriosa; absorver, sem medo, cada experiência que lhe apareça à frente e enriquecê-la completamente para que o seu poema seja um todo, não um fragmento; pensar a vida humana na poesia e oferecer-nos assim, de novo, a tragédia e a comédia(...)»



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